Eu não ignoro você, eu ignoro o whatsapp
- Isis C. Paranhos
- 16 de fev. de 2023
- 3 min de leitura
Eu acredito que nunca foi tão importante saber estabelecer limites quanto agora.
Essa foi uma das frases que mais escutei nessa última semana e é uma prática que eu tenho feito há meses, principalmente na parte da manhã, enquanto estou acordando, cultivando meu alinhamento ou treinando.
E foi a melhor decisão que tomei na minha vida, rs
Sorry quem se sentiu/sente ignorado: não é com você é com o whatsapp.
Além do meu número pessoal, ainda sou responsável pela gestão do meu comercial, ou seja, eu não vou dar atenção tão bem aos dois ao mesmo tempo, eu setorizo bem: durante a semana meu foco é o comercial, já no final de semana ele é ignorado com muito sucesso.
Só que isso não foi possível sem que eu tivesse que lidar com a culpa, o medo da rejeição e do abandono e umas coisas a mais que vieram à tona quando eu comecei a estabelecer esses limites e, principalmente, a mantê-los.
Primeiro, pois o FOMO (Fear of missing out - medo de perder a ação) grita ao iniciar esse processo. Na hora vêm pensamentos como:
“Mas e se fulano me mandar msg” - Filha, se ele não mandou há semanas, não é nessas 4 horas do começo do seu dia que, se ele mandar e você não responder, algo vai mudar.
“Mas eu não posso ficar sem responder fulano, ciclano e beltrano.” - Me conta aqui: quantas histórias e tretas que não são nem suas você tem escolhido administrar para os outros? Que muitas vezes nem vão fazer o que você aconselha.
“Mas meu chefe pode precisar falar comigo a qualquer momento e eu sempre tenho que estar disponível.” - Até onde eu saiba o nome disso não é emprego, se você tem que estar 24 hrs disponível.
E, calma, eu sei que existem casos específicos em que sim, isso rola. Mas, há muito já deixou de ser casos isolados e virou o tempo todo, né?
E aí, você não percebe o pior - a baixa de dopamina que você tem quando não tem notificação nenhuma. Ou o senso de rejeição que você sente se alguém demora a te responder, ou talvez, nem te responda. Assim, você fica viciado nesse barato que te dá, do outro precisar de você, querer sua atenção e etc… E doi demais quando não temos a consciência de que o outro pode ter outra prioridade na vida, que não seja você.
Eu acredito que sim, é possível ser atencioso e estar presente, mas precisa ser todo santo dia? Toda hora? Para todo mundo?
Será que nossas relações não poderiam ser mais equilibradas se respeitássemos a pessoa mais importante das nossas vidas primeiro? Nós mesmos, no caso.
Eu não vim aqui propor uma solução mágica; só trazer um questionamento mesmo.
Pois sinto que essa trend tá pegando.
Acredito que podemos entender que o outro não nos responder ou mesmo não responder na velocidade que queremos, não quer dizer sobre nosso valor. Isso é só um reflexo da habilidade do outro de socialização e administração do tempo. Bom, pelo menos no meu caso, é isso.
Eu posso passar horas trocando ideia quando encontro com alguém, mas a chance de fazer o mesmo pelo whatsapp é pequena. Na real, há uns anos já não tenho esse hábito de trocar muita ideia por ligação ou vídeo, de modo que criar o limite em relação ao whatsapp foi ‘fácil’.
Atualmente, confesso que até para me ligar geralmente é preciso me mandar msg avisando antes, pois no meu telefone não aparecem notificações de NADA. Nem msgs, nem ligações, logo, se eu não estiver olhando nem o vejo tocar.
E, com isso, meu FOMO, foi perdendo força. E minha saúde mental deu uma guinada.
Quer me ver, encontrar e papear? Bora. Quer discutir a vida pelo whatsapp? Eu te respondo quando (e se) der. Se eu já te deixei no vácuo, considere-se íntimo, pois faço isso com quem eu gosto e considero. Não por mal, é só em prol da minha saúde mental.
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